“A educação não é apenas negligenciada em muitas de nossas escolas hoje, mas é substituída, em grande medida, por doutrinação ideológica” Thomas Sowell (economista, escritor, filósofo e político norte americano)
Quero fazer um breve comentário sobre algumas notícias que saíram na imprensa esta semana. Todas dizem respeito à educação – ao ensino, aos profissionais da educação, ao aprendizado, remuneração, à pandemia.
A primeira notícia diz respeito ao número de crianças analfabetas. Segundo dados divulgados pela ONG Todos pela Educação, nesta terça-feira (8.2), com base no IBGE, apontam que 40,8% das crianças brasileiras, entre 6 e 7 anos, não sabiam ler ou escrever em 2021. Esse percentual assusta quando observamos que o número saltou de 1,429 milhão em 2019 (o equivalente a 25,1% das crianças brasileiras nessa faixa etária) para 2,367 milhões (40,8% das crianças) em 2021. Um aumento de 65,6% em comparação com 2019. É como se, em uma sala de aula com 25 crianças, 10 delas não soubessem ler ou escrever. É de cortar o nosso coração.
Mais assustador e alarmante é que esse levantamento não levou em conta crianças indígenas, amarelas e não declarantes. Se considerarmos esses públicos, o aumento sobe para 66,3% entre 2019 e 2021.
A segunda notícia diz respeito a fala do governador da Bahia, nessa segunda-feira (7.2) quando da abertura do ano letivo da rede estadual. Disse ele: “… eu quero pedir o empenho, a motivação de cada diretor, de cada vice-diretor, de cada professor, que a gente mobilize as famílias, mobilize os estudantes. Vamos fazer essa busca ativa … e mantê-lo na escola, apoiá-lo, incentivá-lo”.
Muito bonitinho esse discurso, recheado de tons sentimentalóides e melodramáticos. Só que a realidade é outra, caro governador.
A Bahia ocupa os primeiros lugares com maior índice de evasão escolar (IBGE/TCEs), índice agravado durante a pandemia – em 2020, a Bahia foi o ÚNICO estado que não desenvolveu qualquer atividade de ensino/aprendizagem durante a pandemia, nem mesmo de forma remota. O resultado disso foi que a Bahia, mais uma vez o único, que recebeu nota ZERO. Por conseguinte, não é surpresa a Bahia, junto com o Amapá, ter o pior ensino médio do Brasil (IDEB/MEC 2019)
E para comprovar que a Bahia continuará com esse alto índice de evasão escolar aqui vai mais um dado: como querer que o aluno permaneça em sala, como fazer busca ativa, conversar com pais, fazer campanhas, se esse mesmo governador, de maneira autoritária, ditatorial e até criminosa, obrigou – ilegalmente, pois fere a Constituição Federal (arts 5º, XV; 6º e 205) a apresentação de passaporte vacinal para que os alunos possam frequentar as aulas, sendo este um direito dos mais elementares e essenciais para uma criança/jovem que busca um futuro melhor.
A terceira notícia diz respeito ao aumento salarial para a categoria dos profissionais da educação. Depois de sete anos sem conceder aumento aos servidores públicos estaduais, o governador, Rui Costa (o inimigo nº 1 dos funcionários públicos, segundo Lídice da Mata, na campanha de 2014), resolveu conceder 4% de aumento para todas as categorias, inclusive professor. No entanto, o Presidente Bolsonaro já tinha sinalizado que daria o aumento conforme estabelece a lei do Piso Nacional (11.738, 16/7/2008). Dessa forma concedeu aos profissionais da educação um aumento de 33,24%, estabelecendo em R$ 3.845,63 o valor do piso para todos os professores do Brasil. Ressalte que esse foi o maior aumento até hoje concedido aos professores.
Quando estávamos comemorando, eis que governadores e prefeitos se mobilizam para barrar na justiça esse aumento, inclusive Rui correria. Só depois de muita mobilização da categoria – sem qualquer ajuda e participação da APLB que ficou caladinha como sempre – e temendo mais desgaste político, o governador encaminhou projeto de lei que estabelece o cumprimento do piso salarial. E, para se fazer de bonzinho disse: “sabemos do merecimento dos educadores baianos” Se sabia desse merecimento por que não deu o aumento correto antes? Só depois que o presidente Bolsonaro concedeu o aumento é que ele vem com essa conversa mole para boi dormir de merecimento. Mas como bem diz o baiano “a gente não come esse H não”.
Em resumo. Tudo isso – evasão escolar, pior ensino médio do Brasil; analfabetismo, escolas sucateadas, aumento de mentirinha, violência dominando o Estado, economia sendo ultrapassada por Estados como Ceará e Pernambuco, é o resultado de um projeto político de poder que há quase 16 anos domina e destrói a nossa querida Bahia. As escolas deixaram de ensinar para serem centros de formação de militantes; parcela significativa de colegas professores já não mais ensinam, para se transformarem em ativistas de causas estranhas ao ensino e à educação; os currículos deixaram de conter disciplinas que preparavam formação intelectual e técnica da juventude e se voltam para conteúdos com pautas “identitárias” que abordam ideologias contrárias ao nosso processo histórico/cultural/econômico. Não tem como dá certo a educação/ensino/aprendizagem na Bahia com um estado de coisas como esse.
Esses fatos, associados a tantas outras ruindades colocam a Bahia como o buraco negro da educação. É triste essa constatação, mas é a realidade nua e crua. Para mudar isso só com a união de todos os baianos para pôr fim a esse projeto político de poder. Do contrário estaremos predestinados a continuarmos sendo o patinho feio do Brasil, tendo os piores indicadores sociais.
*Alberto Argôlo – professor da rede estadual de ensino da Bahia.