Impulsionada pelo aumento de produção da Refinaria de Mataripe, a indústria baiana deve fechar o ano de 2022 com um crescimento de 5%, num movimento de recuperação após quase três anos de expressivo declínio, de acordo com projeção apresentada ontem pela Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB). No ano passado, o setor registrou uma baixa de 14,3%, de acordo com a Pesquisa Industrial Mensal de Produção Física (PIM-PF), do IBGE. Para 2023, a expectativa é que o setor acompanhe o desempenho nacional, com um aumento de apenas 0,3% na atividade industrial, segundo estimativa da gerência de Estudos Técnicos da FIEB.
Com uma atividade econômica fortemente atrelada ao desempenho nacional, o aumento no volume de refino de petróleo é que está fazendo a diferença no resultado deste ano. Num intervalo de um ano, entre outubro de 2021 e o mesmo mês em 2022, a atividade cresceu 26,4%, puxando para cima o desempenho da indústria de transformação. Além do refino, apenas a produção de equipamentos de informática registrou desempenho positivo no período, com uma alta de 76,2%, graças ao Polo de Ilhéus.
Segundo o superintendente da FIEB, Vladson Menezes, o refino é o grande responsável por este resultado, pela importância que tem para a economia baiana. “A Refinaria de Mataripe corresponde a 28% da indústria de transformação e ela deve crescer perto de 30% em volume de produção em 2022”, destaca Menezes.
Outras atividades que encerram 2022 com bons resultados são a Construção Civil e os Serviços Industriais de Utilidade Pública (Siup), como energia, saneamento e telecomunicações, entre outros. Neste caso, o fator que impulsionou o bom desempenho é a implantação de parques para a geração de energia renovável, explica Vladson Menezes. O destaque negativo na indústria ficou por conta da metalurgia, impactada pelo processo de recuperação judicial da Paranapanema, produtora de cobre refinado, que opera uma unidade em Dias D’Ávila.
Os empregos formais gerados pela indústria baiana vêm crescendo desde 2020 e devem fechar o ano com crescimento de 12,7%, puxado pelas áreas de Construção Civil e Calçados. Em 2023, esses segmentos devem continuar empregando, embora em ritmo menos acentuado.
O que esperar
Embora faltem elementos para estabelecer um número, as projeções da Federação das Indústrias é de que o setor acompanhe o desempenho nacional no próximo ano. “Nós acreditamos que a indústria deve crescer, mas numa intensidade menor do que a registrada neste ano”, avalia Menezes.
Para ele, a construção pode continuar em alta, mas isso dependerá dos passos do novo governo federal. “A construção civil cresceu este ano muito em função de obras lançadas em 2021, antes de termos esta escalada na taxa básica de juros. Depois disso o ritmo de lançamentos já diminuiu e o que pode reverter este cenário seria o de uma retomada do programa Minha Casa Minha Vida, como sinalizado pelo grupo que venceu a eleição nacional”, acredita. “Pode ser um contraponto, mas não sabemos o quanto está previsto para o programa e quando é que isso vai entrar na economia”, pondera.
Em relação ao refino de petróleo, a expectativa é de um novo crescimento, porém numa intensidade menor. “A menos que haja algum fator, devemos ter crescimento, mas não na intensidade que tivemos agora”, destaca.
Vladson Menezes lembra que os preços das commodities vem desacelerando desde o início do segundo semestre do ano e o Brasil, de modo geral, e a Bahia, em particular, são exportadores de produtos básicos, o que pode afetar o desempenho econômico em 2023. “A indústria química não deve ter o patamar de preços que registrado até setembro e isso vai afetar o valor adicionado da petroquímica”, aponta, ponderando que o cenário pode se alterar caso haja políticas de estímulo ao segmento. A mineração é outra atividade que pode ser impactada pela queda nos preços internacionais, porém Vladson Menezes pondera que neste caso, “mesmo com preços internacionais não muito favoráveis, mas a Bahia tem um grande potencial”.
Entre as perspectivas positivas, ele acrescenta os investimentos em energias renováveis e o mercado de amônia verde, cuja primeira fábrica em escala comercial do mundo deve entrar em operação até o final de 2023, graças a um investimento da Unigel. “Mesmo não sendo um volume altíssimo, tem um potencial de futuro superimportante. Se um investimento como este vai adiante, surge a possibilidade de fomentarmos na Bahia uma indústria de baixo carbono”, indica. Menezes lembra que amônia verde, chamada assim porque é produzida com matéria-prima 100% limpa e renovável, é “a base para a produção de fertilizantes verdes, que irão abastecer uma agricultura verde”.
Sétima economia do Brasil, com participação de 4% do PIB e a maior do Nordeste, com 28,3% da economia regional, a Bahia vem registrando nos últimos anos uma baixa capacidade de atração de investimentos, aponta o relatório da FIEB.
Num comparativo apresentado pela federação, no período de 2011 a 2022 o Brasil cresceu apenas 0,9% a.a. E a Bahia conseguiu registrar um desempenho ainda pior, de 0,4% ao ano. As explicações para estes resultados estão em questões relacionadas à infraestrutura e o ambiente de negócios. “Existem questões que precisam ser resolvidas para nós podermos falar em crescimento sustentado”, aponta Menezes. São problemas que muitas vezes fogem à alçada de um único ente governamental, acredita. “Nós temos que falar da questão das ferrovias, por mais que não seja algo que se resolva de uma hora para outra. É vital ter um modelo que melhore as condições das principais artérias rodoviárias, que são federais. É preciso ligar as ferrovias aos portos”, enumera.
Ele defende ainda a criação de modelos mais atrativos para atrair investidores privados para a área de infraestrutura portuária. “O futuro da Bahia passa por essas questões”.
Por Donaldson Gomes