Visitei uma bela fazenda na semana retrasada, onde adormeci e acordei bebendo leite no peito da vaca. E ali, indubitavelmente, remocei a ideia antiga de ser um agricultor ou pecuarista. As minhas mãos desenham letras, mas anseiam também a erva e a ordenha!
Não foi a toa que, assim que nos aproximávamos da fazenda à noitinha, minha esposa, que é filha de um antigo fazendeiro tradicional da região que visitávamos, baixou o vidro do carro e, sentindo aquele cheiro gostoso de curral vindo do horizonte, comentou comigo:
– Você está doido para plantar, colher e fumar suas flores proibidas…
– E cantar Hotel Califórnia para meus netos…, acrescentei.
– Aguarda apenas a decisão final do STF, não é?
– Isso… O álcool está com os dias contados na minha vida, querida.
A enorme fazenda – de 31 mil tarefas – é de um cliente meu na advocacia. Embora cheia de tratores e caminhões, eu soube que ele só explora 10% da terra – com agricultura, pecuária e sêmen –, o que lhe dá um faturamento bruto de R$ 200 mil por mês. Uma terra improdutiva…
No Sebrae, aprendi que aplicando-se R$ 1 milhão em imóveis na área urbana, o investidor ganha menos que o salário de um deputado federal. E o que é pior: não vai gerar tanto emprego direto, mas apenas o próprio ócio, na verdade, vai alimentar a preguiça em si mesmo.
Agora, se essa mesma quantia for aplicada numa fazenda de 300 tarefas, o pecuarista/agricultor conseguirá o dobro de um salário de deputado federal, gerando muita renda direta aos trabalhadores. E se tiver uma visão bacana, constrói até escola no estabelecimento.
E não me venha falar que é muito trabalho, porque o administrador dessa fazenda que visitei, garantiu-me que o proprietário só vai lá às terças, quartas e quintas-feiras, quando sua presença dá um norte sobre o que deve ser feito ou não na propriedade.
Fiz essa comparação com o deputado federal porque, quando viajo para Brasília, percebo que esses políticos só chegam por lá na noite de segunda-feira e retornam às tardes de quinta-feira para seus estados. Ou seja, assaltam o país apenas em três dias de ócio.
Mas o que mais nos impressionou nessa viagem – percorremos 20 municípios nos estados de Sergipe e Bahia – foi a quantidade de motéis construídos recentemente por empresários locais. Em todas as cidades (inclusive em Queimadas) havia um motel com fachada luxuosa.
Não consigo entender como um empresário prefere construir motel em cidade pequena, ao invés de aplicar a grana na agricultura. Olha, o mais gostoso no interior é transar no rio, na roça, debaixo do umbuzeiro, enfim… A melhor transa da minha vida foi na Lagoa do Abaeté!
Quando retornávamos da viagem, minha esposa questionou-me, ao ver um belo motel em Valente:
– Por que ao invés de motéis, não constroem escolas?
– De balé, de artes plásticas ou de música, não é mesmo?, completei, questionando-a.
– Bastar-nos-iam escolas de português, corrigiu-me.
De fato, nós imitamos os norte-americanos nos piores vícios, mas jamais nas suas virtudes, daí tanta terra improdutiva nesse país. Investe-se em imóveis na área urbana, o que gera mais ociosidade do que dinheiro e escolas. Enfim, colhemos os frutos dessa paisagem – rica em orgasmo, mas pobre de verbo!
Por Marconi de Souza Reis
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